Martini era um pessoa de personalidade forte, marcante. Bem humorado, sempre nos brindava com uma nova piada, comentários irônicos e inteligentes sobre o cotidiano, as pessoas e a vida. Controverso, sua passagem por aqui se deu de forma intensa; sua presença era tão forte que em algumas situações chegou a ser mal compreendido. Mas por trás daquela figura provocativa e crítica vivia um homem de sensibilidade, amante do bom vinho, da boa mesa e, principalmente, um ser humano educado, atencioso e culto. Era capaz de sustentar por longas horas um bom papo sobre qualquer tema. Sempre tinha sua opinião abalizada e argumentos sobre política, futebol, viagens, lugares, personagens, cinema, livros, poesia, música e muito mais. Enfim, um homem que fará falta entre nós.
Nossa amizade surgiu no espaço virtual, por meio de nossos blogs, o Diamantia Revista e o Passadiço Virtual. Em junho de 2009 recebi sua primeira mensagem:
- "Está sabendo do Projeto Diamantina Revista? Vamos trocar figurinhas? Pronto, a bola está com você! Um chopp na Baiúca? Um vinho no Espaço B ou um torresmo a milaneza no Bazé?"
Literalmente, seja no virtual ou real, trocamos muitas figurinhas interessantes. Martini sempre tinha novos projetos e grandes idéias. Queria fazer um jornalismo diferente em Diamantina. Da sua maniera, pretendia dar sua contribuições para a cidade. Investigou a carne vendida sem fiscalização, alertou sobre a invasão dos "camelôs" no centro histórico, cobrou uma atuação mais efetiva da prefeitura nos problemas da cidade, registrou os belos momentos do Café no Beco, nos mostrou a voz da vesperata e sempre batia ponto na feira do Mercado Velho. Enfim, era figura carimbada nos principais eventos da cidade nos últimos meses.
Em nosso último encontro, em pleno fim de tarde de uma segunda-feira, sentados no banco da praça do Mercado Velho, ele me contava os detalhes sobre a feijoada que iria fazer para arrecadar fundos para EPIL. Apesar das dificuldades e dos obstáculos, nunca perdia o seu bom humor e a possibilidade de fazer algo diferente. Queria espaço, viver e trabalhar com diginidade em nossa comunidade.
Relendo as mensagens eletrônicas que trocamos nesse curto período de convivência, encontrei uma frase em que se auto-define:
"Gosto muito de quebra de padrões. Sou, afinal, um transgressor de mim mesmo."
E assim foi, trasngrediu a si mesmo. Trasngrediu a mesmice e as formalidades. Viveu no lado B. Porém, nunca abriu mão de suas convicções, seus desejos e sonhos. Infelizmente, nos últimos dias, trasngrediu o seu maior patrimônio: a saúde. Impacientemente e inquieto, o paciente fugiu do hospital. O seu coração, sempre me dizia, estava fraco, mas ele nunca queria desistir.
Martini estava sempre me surpreendendo. Certa vez, me disse que seu maior sonho era comprar um grande e potente caminhão. Queria ser um beatnik moderno na boléia de um trucado. Queria passar a vida viajando confortavelmente pelas estradas desse mundo. Infelizmente, hoje ele faz a sua última e eterna viagem. Mas, com certeza, deixará em nós uma grande saudade e admiração. Siga em paz. Obrigado pela amizade. Boa viagem, amigo.
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