Um data histórica marcou 2008: os 200 anos da imprensa no Brasil. Além disso, 2008 também registra os 200 anos da chegada de D. João ao Brasil, pois a partir de 1808 o Brasil foi a sede da monarquia portuguesa no Mundo. Portugal fora invadido pelas tropas de Napoleão Bonaparte e a corte deixou Lisboa para instalar-se na cidade do Rio de Janeiro.
Também foi em 1808 que surgiram os primeiros jornais brasileiros. Um dos mais importantes, o Correio Braziliense, editado em Londres, por Hipólito José da Costa e que chegava ao Brasil de seis em seis meses. O outro, a Gazeta do Rio de Janeiro, era editado e publicado no Brasil pelo Frei Tibúrcio por ordem do rei Dom João VI. A imprensa desenvolveu-se no Brasil a partir de 1808. Foram dezenas de jornais que apareceram, mas que tiveram curta duração. Esses jornais nasciam para defender idéias políticas e filosóficas e, muitos, desapareciam em seguida. Mas são eles que formam a trajetória histórica da imprensa brasileira. de 1808 (chegada de D. João) a 1889 (Proclamação da República) os jornais foram os principais protagonistas das transformações políticas e sociais do país: da Independência em 1822 à República e ao fim da escravidão.
O que faltava, até agora, era um estudo e pesquisa científica sobre tais periódicos e o seu volume na construção da História do Brasil. São muitos os períodos e locais que ainda não foram estudados e pesquisados com o devido rigor acadêmico. Mas, aos poucos, jornalistas, professores e pesquisadores se alistam ao ideal de analisar, registrar e documentar o papel da imprensa nas principais etapas da história do Brasil.
Uma pesquisa importante é da jornalista, historiadora e professora Maria de Lourdes Rias Reis, da UNI-BH, em Belo Horizonte (MG), que tem como título a Imprensa em Tempo de Guerra: O Jequitinhonha e a Guerra do Paraguai (Belo Horizonte: Edições Cuatiba, 2008). Ao longo de suas 136 páginas, a obra analisa e documenta o papel de um periódico de oposição ao regime monárquico, o jornal O Jequitinhonha, editado em Diamantina, cidade importante de Minas Gerais do ponto de vista econômico, político, social e cultural. O estudo faz parte da dissertação de Mestrado da autora, defendida na PUC/RS, em dezembro de 2002, sob a orientação do professor Dr. Earle Diniz Macarthy Moreira. O livro, que mostra as histórias, anedotas e causos gerados em torno do confronto Brasil-Paraguai, é um documento para avaliar os aspectos folkcomunicacionais da época, tendo por base o momento da Guerra do Paraguai.
O estudo de Maria de Lourdes, todo baseado nas páginas do jornal, mostra uma outra visão da Guerra do Paraguai. O jornal O Jequitinhonha era, na ocasião, porta-voz do Partido Liberal, de tendência republicana, que faz oposição ao governo do Imperador Dom Pedro II. A partir dos dados empíricos da investigação, o trabalho critica o regime do II Reinado, usando a metodologia da 'História Nova', que ancora a pesquisa nas páginas dos jornais como fonte de documentação fundamental. A cidade de Diamantina, no coração do Vale do Jequitinhonha, comandava a oposição ao projeto do governo imperial de D. Pedro II. Ali floresceram ideais políticos e filosóficos que marcam o pensamento progressista do povo das Minas Gerais em prol da transformação social e econômica do Brasil.
A autora pesquisou durante três anos os arquivos dos jornais em Belo Horizonte, na Hemeroteca Pública de Minas Gerais, também em Diamantina, na Biblioteca Antônio Torres e, finalmente, no Rio de Janeiro, na Biblioteca Nacional. Demorou a reconstruir a visão liberal do jornalista mineiro Joaquim Felício dos Santos, editor de O Jequitinhonha, que usava o jornal para lutar pelos ideais republicanos de desenvolvimento industrial,
justiça social e democratização do país.
Enfim, o livro traz uma versão da Guerra do Paraguai, dá uma nova luz a um conflito entre o exército brasileiro, chefiado pelo Duque de Caxias e o exército paraguaio, do militar Solano Lopez. E, o que é importante, para os estudiosos da mídia, é que as fontes para tais revelações são as páginas de um importante jornal da histórica cidade de Diamantina (MG). Através da análise das notícias, dos artigos, editoriais e charges, surgem resultados surpreendentes para compreensão deste período histórico nacional marcado por lutas, muitas vezes, impulsionadas pelas páginas dos periódicos.
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