Texto: Fernando Gripp e Wellington Gomes - Foto: Gladistone Gripp
Só não enxerga o óbvio o pior cego, aquele que não quer ver. Basta um olhar mais atento para constatar que o maior tesouro de Diamantina está sofrendo, e muito. O centro histórico da cidade pede socorro. O patrimônio histórico que a diferencia das demais pequenas cidade do interior do Brasil está sendo lentamente destruído. Somos todos culpados, alguns mais, outros menos. Incomoda-nos o imobilismo geral, a falta de planos e iniciativas. Mas ainda é possível pensar em soluções, sonhar com alternativas que vislumbrem uma cidade que valorize e preserve suas riquezas e sua cultura.
Antes que o caro leitor desista do texto, pensando tratar-se das tradicionais lamúrias e críticas aos políticos e governantes, deixemos bem claro que nosso objetivo é de caráter propositivo. Queremos levantar e discutir soluções para a cidade que escolhemos para viver e que nos acolheu tão bem. Não somos nativos. Chegamos aqui há pouco tempo, mas o suficiente para ver as transformações que a cidade vem passando. Basta andar alguns minutos pelo centro da cidade para presenciar uma série de equívocos e descasos com a preservação do reconhecido patrimônio cultural da humanidade.
Mas sonhar não custa nada. Inspirados nas comemorações dos 50 anos de construção de Brasília e na inauguração da cidade administrativa do Governo do Estado de Minas Gerais, ambos os projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, vislumbramos uma possível solução para dar novo fôlego de vida para a cidade. Será que é possível pensar na construção de um centro administrativo fora do centro da cidade? Será viável um espaço de convergência de todo aparato burocrático municipal, estadual e federal? Como seria bom se houvesse um lugar único, centralizado, em que o cidadão tivesse à disposição uma série de serviços públicos de qualidade. Aproveitando a discussão e implantação do novo plano diretor, esse local poderia ser pensado com tranqüilidade, construído fora da cidade, talvez próximo a um novo terminal rodoviário, na região do novo e inacabado campo de futebol ou lá pelas bandas do aeroporto. Certamente, tal medida deslocaria o intenso tráfego de veículos para essa nova região administrativa, incentivaria o surgimento de uma nova área comercial e conseqüentemente, daria um fôlego novo para parte histórica da cidade.
Simbolicamente, o projeto já nasce sob a inspiração de JK. Quando o mais ilustre diamantinense propôs a construção da Pampulha, chegou a ser considerado maluco, pois a região era muito distante da grande círculo da Av. do Contorno. Hoje, o conjunto arquitetônico da Pampulha é cartão postal e uma das áreas mais valorizadas da cidade. Posteriormente, quando presidente da república, JK resolveu cumprir a constituição e decidiu construir Brasília. A oposição deu um sorriso de desconfiança. Uma frase histórica de Carlos Lacerda dava o tom de descrédito: “Brasília será o cemitério do Juscelino politicamente”. Contra tudo e todos, Brasília foi construída e fez o Brasil olhar um pouco mais para o seu interior. Não por acaso, o auditório do centro administrativo recém inaugurado pelo governador Aécio Neves leva o nome de Juscelino Kubitschek. Uma obra que já vem provocando profundas mudanças no espaço urbano de Belo Horizonte. São exemplos claros dessas mudanças a valorização da região norte da cidade e a transformação da Praça da Liberdade em um grande centro de cultura e lazer.
Transportando essa lógica para a pequena e cativante Diamantina, a idéia nos parece totalmente viável e interessante. O cidadão diamantinense certamente teria uma melhora significativa nos serviços prestados pelo setor público. Para os servidores teríamos melhores condições de trabalho. Para o poder público teríamos uma economia considerável. Basta verificar os altos valores de aluguéis que são pagos para locação de repartições públicas atuais no centro da cidade e o exuberante montante de recursos públicos (impostos) envolvidos na aquisição de imóveis. Indiretamente, para o turismo, abriríamos novas e rentáveis possibilidades pela revitalização e revalorização do centro histórico.
Dando mais asas para a imaginação, por que não sonhar com projeto do grande arquiteto. Talvez uma das últimas obras de Niemeyer, um presente para a cidade onde tudo começou. Um presente para Diamantina, para Minas Gerais e para o Brasil.
Voltando a colocar nossos pés no chão, alguém perguntaria sobre os recursos financeiros para tal projeto. Para isso, é preciso registrar que, economicamente, o país vive um momento especial. Vejamos por exemplo o recente lançamento do PAC das cidades históricas e as diversas fontes de financiamento do governo federal. O mesmo cenário e perspectivas se aplicam ao Governo do Estado de Minas Gerais. À Prefeitura de Diamantina caberia, por exemplo, a cessão de algum terreno para tal projeto. Enfim, é preciso de um pouco mais de vontade e competência política para colocar em prática um ideal.
O que não se pode negar é que o centro de Diamantina e seu entorno estão saturados e não comportam a expansão que a cidade apresenta. O tráfego de carros cada vez mais intenso, a poluição visual, as barreiras e armadilhas arquitetônicas que dificultam a circulação dos pedestres e o grande número de vendedores ambulantes são apenas alguns dos mais graves problemas que podemos apontar. Os comerciantes perdem muito com o agravamento dessa situação. Inicialmente, com raras exceções, o comércio terá grande resistência em mudar o foco de suas ações. Sendo assim, o novo centro administrativo poderia, então, contribuir com a descentralização desses serviços e atrair novos investimentos privados para áreas emergentes da cidade.
Enfim, está lançada a proposta para ser debatida, criticada e aprimorada por quem se preocupa com o futuro de Diamantina. O momento político e as condições econômicas parecem favoráveis. Precisamos de visionários, inspirados em JK e Niemeyer, pessoas que desejam construir o novo. Precisamos de políticos, empresários e cidadãos competentes, ousados e corajosos que serão lembrados no futuro como aqueles começaram um projeto que salvou o patrimônio cultural de uma das mais importantes da história de nosso país.
Parabéns aos autores! É disso que eu gosto pra valer: propostas, ideias, entusiasmo, dedicação... Sem lamúrias, sem nhenhenhém, sem pequenez.
ResponderExcluirUma observação: há de se tomar cuidado, dar atenção maior ainda àqueles mais cegos que o bíblico que não quer ver, àqueles que acham que enxergam... e que deixaram de sonhar. Grande abraço e parabéns, de novo.
Gosto da ideia de unificar os prédios da administração pública num único lugar e longe do centro histórico de diamantina. só não sei se a arquitetura desse lugar precisa estar embasada na filosofia faraônica de aécio ou de juscelino. talvez não combinaria com o ar interiorano e barroco do tijuco. mas vcs estão de parabéns por iniciar esse debate tão essecial. ando mesmo cansada de tanto carro pelas ruas da cidade. e olha que a tendência é aumentar, né?
ResponderExcluirInteressante a proposta. Instigante!
ResponderExcluirPoderiam enviá-la para edição na Voz. Os nativos, infelizmente, vivem "deitados em berço esplêndido".
Excelete iniciativa. Outros temas importantes também devem passar por coleta seletiva e reciclagem do lixo produzido por nossa cidade e organização do trânsito. Parabéns aos CIDADÃOS Diamantinenses.
ResponderExcluirPArabéns!
ResponderExcluirÉ realmente urgente que se faça alguma coisa.
O sistema de estacionamento rotativo, pelo menos por enquanto, já ajudaria muito.
Ione
É um proposição arrojada, inteligente, atualíssima e que deve ser levada avante; o que estiver ao meu alcance, além do total apoio, conte certo. Meu velho e sonhado "sonho"... retirar o trânsito do centro da cidade, preservar o que ainda resta do nosso Patrimônio Físico.
ResponderExcluirNélio Lisboa
Muito interessante o texto, parabéns pela iniciativa de levantar uma discussão saudável. É uma proposta muito inteligente e ousada que traz benefícios para a população e para a cidade.
ResponderExcluirReapareço para reforçar as proposições feitas pela dupla. São inteiramente necessárias e exequíveis, e diria, urgentes!
ResponderExcluirA ideia proposta de envolver o Niemayer é fántástica. Imagino que ele iria adorar.(Por falar nisso, há uma obra dele por aí que passou da hora de sofrer uma intervenção; a Praça de Esportes).
Força sempre, pois é isso que está faltando no Brasil. Gente pensando grande e com vontade de fazer!
Um grande abraço na dupla.
(Grato pelo crédito da foto)
Essas idéias já foram pensadas, não sairam do papel, por falta de coragem e iniciativa política, mas ainda há tempo de "salvar" Diamantina, também não sou nativo, e luto por essa cidade. faço parte dessa luta!
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