O cinema e a TV impuseram-lhe uma imagem de mulher exuberante, sensual, dominadora e que abalou os alicerces da arraigada ordem social na Diamantina do século 18. Mas Chica da Silva, a ex-escrava que se uniu a um contratador de diamantes e com ele teve 13 filhos, foi um mito cuidadosamente construído nos últimos dois séculos, e que vem sendo desmontado por pesquisas recentes, como a da professora Júnia Ferreira Furtado.
O legado apetite sexual, a promiscuidade e as crueldades que sempre pontuaram as histórias contadas sobre Chica da Silva, a ex-escrava que freqüentou a fechada elite mineira do século XVIII, podem não passar de mitos. É o que sugere a professora Júnia Furtado, a autora de estudo que mostra que a ex-escrava não era a mulher devassa retratada no filme Xica da Silva, de Cacá Diegues, lançado na década de 70, ou na novela homônima da Rede Manchete, exibida no ano passado.
De acordo com a historiadora, Chica nunca foi uma redentora de escravos ou da raça negra. Era uma grande proprietária e procurou imitar os hábitos da elite branca. Teve 13 filhos num período de 15 anos e não amamentou essas crianças. Ela procurou se comportar como uma mulher da elite, e se, por um lado, alcança essa condição por causa do concubinato com o contratador, por outro a saída de João Fernandes não altera em nada o status de Chica na sociedade. Depois que o contratador volta a Portugal, ela casa algumas de suas filhas com militares portugueses de baixa patente e consegue o apadrinhamento das maiores autoridades do Tijuco. Essa visão de uma Chica que escandalizava a sociedade não tem o menor respaldo na documentação histórica. Ela foi uma entre várias mulheres negras ou mestiças que conseguiram entrar no universo dos brancos.
Aproveito a oportunidade para parabenizar todas as mulheres pelo Dia Internacional da Mulheres. Vocês que são exemplo de perseverança e luta pela igualdade social.
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