Quando ele narra o susto daquele encontro, é impressionante: chegou lá e caiu em cheio num passado, num passado de verdade, que era novo em folha para ele. E ele comentava esse encontro com Diamantina, como se fosse ontem, e no final dizia uma frase definitiva, ‘…era aquela beleza sem esforço’, entende? Então para ele bateu uma coisa… ôpa, o que é isso, nós, neo-coloniais, fazemos um supremo esforço, você pega coisa de igreja e bota em casa, não é, e de repente chega aqui e é tudo normal, lindo e sereno e compatível com a tecnologia de construir; então isso instalou dentro dele uma perplexidade, digamos, um desconforto extremamente poderoso, porque perdurou… ele continuou sendo arquiteto neo-colonial até 29, mas aquilo começou a incomodar cada vez mais, ficou aquela referência de base, e eu tenho a sensação sempre de que esse encontro com Diamantina foi também o caminho de chegar à coisa moderna. Na cabeça de uma pessoa bem informada como ele, com lastro cultural bom, todas as épocas tinham uma cara correspondente a um modo de construir. Como a mudança radical nas técnicas construtivas, em meados do século XIX, que davam a possibilidade de “vestir” a estrutura com as mais diversas fantasias, ficava tudo lá dentro escondido e ninguém estava preocupado com isso.
De repente eu acredito que isso de Diamantina, da coisa verdadeira, da coisa autêntica, colocou nele também o embrião da pergunta: Qual seria o moderno do meu tempo? Qual seria a cara correspondente a essa tecnologia nova!? Porque foi uma mudança enorme, você não tinha mais parede aguentando – de repente porão vira pilotis – pilotis é um porão sem parede –, não precisa mais ter parede no térreo, porque o térreo nunca foi valorizado. Ou seja, você tinha sempre um porão, uma coisa qualquer, o primeiro andar sempre foi um pouco mais alto que o chão. Uma simplicidade bela – para ele coisa bonita… beleza sempre foi fundamental, como dizia o Vinicius. O encontro com Diamantina instaurou em Lucio uma indagação, afinal, como é possível fazer uma coisa bonita de maneira simples?"
Fernando, quando comentei aquele post das janelas, referi-me a Lúcio Costa, pois assisti a uma entrevista de sua Filha na TV, razão pela qual errei algumas datas. Agora que tive oportunidade de ler uma entrevista completa, estou ciente daquele acontecimento e sua data.
ResponderExcluirValeu minha observação que você pesquisou e nos esclareceu bastante.
Obrigado, Assis