Desde 2005 na fila dos sem-tela, "Bela Noite para Voar" chega aos cinemas na sexta-feira, com José de Abreu na pele do mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976), rompendo um tabu do cinema brasileiro de ficção: eleger uma figura política como um herói romântico. "O brasileiro tem vergonha de seus heróis, talvez por isso haja poucos filmes nacionais de ficção sobre figuras políticas, ao contrário de Hollywood", diz o diretor Zelito Viana, que dedicou "Bela Noite Para Voar" como um tributo ao produtor Nei Sroulevich, morto em 2004 durante a preparação do projeto. Longe das telas desde "Villa-Lobos - Uma vida de Paixão" (2000), Viana evoca no longa-metragem, orçado em cerca de R$ 5 milhões, velhas saudades do "Brasil bossa nova" ao refletir sobre um projeto que põe JK na mira do amor. "Até Juscelino, nós vivíamos aquilo que Nelson Rodrigues chamava de ‘complexo de vira-lata’, mas ele mexeu com a nossa autoestima. O Brasil teria sido um outro país, sem brilho, se não fosse por ele", explica o cineasta cearense, radicado no Rio desde a juventude. Responsável pela produção de filmes emblemáticos como "Terra em Transe" (1967), de Glauber Rocha, e "Cabra Marcado para Morrer" (1984), de Eduardo Coutinho, Viana se volta para o processo de construção de Brasília para narrar uma trama passada em 24 horas, levemente inspirada no romance homônimo de Pedro Rogério Moreira.
De um lado, há um clima de thriller: um grupo de militares esboça um golpe planejando derrubar o avião presidencial. Do outro, há uma love story: envolto com negociações com os norte-americanos e outros problemas da administração pública nacional, Juscelino embarca em um voo para Minas Gerais para rever Princesa (Mariana Ximenes), amante com quem manteve um relacionamento durante anos. "Juscelino tinha a capacidade de fazer as pessoas se apaixonarem por ele. Há uma frase de um opositor udenista que dizia: ‘Se brigar com Juscelino, fique a 30 metros de distância porque, se ele abrir aquele sorriso e aqueles olhinhos, você perdeu a briga’", diz o gaúcho José de Abreu, que já havia interpretado Juscelino antes, nos palcos, em uma peça dirigida por Luiz Arthur Nunes. "Em 1989, fui escolhido pela própria dona Sarah Kubitschek, que me viu na minissérie ‘Anos Dourados’ no papel de um militar juscelinista. Na pesquisa, juntei 12 horas de fitas gravadas com a dona Sarah, que me deu uma lista de pessoas para procurar."
Biografado na minissérie "JK", exibida pela Rede Globo em 2006, Juscelino já passou pelas telas com destaque no passado. Em 1980, o documentário "Anos JK - Uma Trajetória Política", de Silvio Tendler, arrastou 800 mil brasileiros aos cinemas dissecando o Plano de Metas do estadista que presidiu o Brasil de 1956 a 1961, com a lógica de crescimento do "50 anos em cinco". "Não há tantos políticos tão queridos pelo público brasileiro quanto ele. A imagem da política no Brasil ainda é muito associada à questão dos conchavos e dos escândalos. Nos EUA, é diferente. Para além do Obama, presidente é popstar. Basta ver quantos filmes existem sobre Kennedy ou Nixon", lembra Abreu. Ao revolver a imagem de JK, "Bela Noite Para Voar" inaugura um ciclo de novos longas ficcionais sobre figuras presidenciais. O próximo da fila é "Lula, o Filho do Brasil", de Fábio Barreto, que estreia em janeiro. Há ainda o projeto "Dr. Getúlio", de Daniel Filho. Zelito Viana já prepara um próximo projeto: a versão do livro infanto-juvenil "Bisa Bia, Bisa Bel", de Ana Maria Machado.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Filme romântico com Juscelino estréia sexta
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