Os filhos, já casados, moravam em cidades maiores, dois em Pouso Alegre, um na capital, a filha em Santos Dumont. Seu Antônio e Dona Lica ficaram sozinhos, na pequena cidade do sul de Minas.
Quando morreu a mulher, os vizinhos, solícitos, faziam de tudo para ajudar seu Antônio; cada dia, uma vizinha levava o almoço, merenda para o lanche da tarde, uma sopa leve para noite. Passado o aturdimento dos primeiros dias, ele começou até a gostar da variação do tempero.
Com o tempo, a filha contratou uma empregada para cuidar da casa e cozinhar para o pai. E a vida foi seguindo o seu ritmo normal.
Mas seu Antônio não gostava muito da comida preparada pela tal empregada; sentia falta da prosa e das refeições caprichadas, preparadas pelas vizinhas, logo após a morte da esposa. Passou então a aparecer nas casas delas, de tarde; sempre havia um cafezinho, uma broa de fubá, alguma quitanda feita na hora, no fogão de lenha. Ele pitava um cigarrinho de palha, ficava ali jogando conversa fora, até o escurecer, quando então voltava para casa.
Acostumado a ser sempre bem recebido, como pessoa da família, sendo logo levado para a cozinha - sem dúvida, o melhor lugar de qualquer casa - estranhou quando, certa tarde, chegando na casa do compadre Zé Borges, foi recebido na sala de visitas e por lá foram ficando, o tempo passando, a conversa se prolongando, e nada de café, bolo ou doces.
Aborrecido, já estava pensando em ir embora quando viu a dona da casa chegando com uma bandeja. Mas sua alegria durou pouco: na bandeja, só as xícaras e um bule de café – mais nada.
Bebendo o café devagar, ele ainda insinuou, meio sem jeito:
- Cafezinho corajoso, esse, heim, dona Célia?
- Ué, corajoso por que, seu Antônio?
- Vem assim para a sala, desacompanhado...
Nenhum comentário:
Postar um comentário