Fonte: Estado de MInas - Publicação: 31/08/2011
Autor: Affonso Romano de Sant'Anna
A riqueza de Minas está inscrita no seu próprio nome – é um estado plural. Plural de montanhas, plural de minérios e mineiros.
Certa vez em Diamantina reuniram-se vários economistas, historiadores e escritores para tentarem definir Minas. Onde? Quem? Quando? Como é Minas? Lá estavam Antônio Cândido, Otto Lara Rezende, Francisco Iglésias, eu e outros. Cada um deu a sua visão. Eram várias e complementares. Assim como existem 10 regiões econômicas, Minas são muitas em uma. Há um mineiro mais paulista, um mineiro mais carioca, um mineiro mais baiano, um mineiro mais capixaba, um mineiro mais goiano. E eis o mistério: todos convergem para a mesma identidade.
Na verdade, como numa concha barroca, voltados psicologicamente para dentro, os mineiros também estão tecnologicamente virados para fora. E o fato é que os mineiros se divertem a si mesmos e aos demais falando da "mineiridade" (sabedoria) e da "mineirice" (esperteza). Na política, Benedito, Alckmin e Tancredo ilustram esse anedotário. E outros se especializaram nesta irônica interpretação, como Guimarães Rosa, Drummond e Fernando Sabino. Já Eduardo Frieiro lembrou que existe até o "mineiro hipotético". Nessa categoria podemos incluir Rubem Braga, capixaba, que nos anos 20 veio trabalhar nos Diários Associados de Minas.
Seja como for, a física nos ensina que há duas forças regendo nosso estado: uma centrífuga – nos remetendo para fora, outra centrípeta – nos puxando para o centro. Assim os da fronteira e os do núcleo fazem um todo. E daquelas forças da física passa-se à saborosa metafísica dos mineiros: eles estão aquém e além, são excêntricos mas estão centrados. Reúnem a tradição e a modernidade indo do líquido do leite à solidez do minério.
Ser mineiro é um modo sólido e líquido de ser e de estar.
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