Fonte: Estado de Minas - Zulmira Furbino - Publicação: 28/09/2011 18:18
Mineração e extrativismo cedem lugar à agricultura familiar e ao artesanato profissionalizado. Com isso, a vida nas cidades do Jequitinhonha-Mucuri vai mudando, lenta mas profundamente.
A região dos vales do Jequitinhonha e do Mucuri está buscando na agricultura familiar e na profissionalização os meios para superar os velhos desafios de sua economia. Aos poucos, deixa para trás o tempo em que as principais fontes de renda eram o garimpo de diamantes e o extrativismo vegetal. Em lugar dessas atividades, surgem outras, como a fruticultura, que tira proveito do solo e do clima do semiárido. Atividades tradicionais, ligadas à história e cultura da região, se profissionalizam e prosperam, como ocorre com o artesanato e a produção de queijo Minas no Serro. Graças a isso, na última década o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região saiu de 0,570 para 0,665 e o Produto Interno Bruto (PIB) saltou de R$ 1,7 bilhão para R$ 5 bilhões. “Os indicadores sociais continuam modestos, mas já melhoraram”, diz Cláudio Marinho, professor da Universidade dos Vales de Jequitinhonha e Mucuri.
No município de Datas, próximo de Diamantina, tudo mudou com a troca do garimpo pela fruticultura. O comércio, que padecia com os calotes de aventureiros em busca de diamantes, renasceu. Há cinco anos, havia um hectare de morango na cidade, hoje são 50. Não havia sequer um pé de milho plantado, hoje são 200 hectares. Ninguém colhia cebola nas redondezas, hoje são 50 hectares plantados. Hoje não há desemprego em Datas.
O datense Marcos José Guedes é um pequeno produtor rural cuja vida se transformou. Com diploma de técnico em agricultura nas mãos, há cinco anos começou a plantar morango, maracujá e milho. Resultado: conseguiu comprar carro zero, terminou de construir a casa e tem filha na faculdade. "Nunca falta comida e sobra sempre um dinheirinho”, diz.
Com incentivo de todas as esferas de governo, a agricultura familiar está tirando famílias da pobreza extrema. Em Datas, isso só foi possível com a criação da Cooperativa Frutivale, que produz polpa de frutas, o que transformou o morango no motor da economia local, beneficiando, ao todo, 13 municípios.
De acordo com o Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi), entre as atividades com maior potencial nos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri estão a fruticultura, a floricultura e a exploração mineral. Além disso, a perspectiva de instalação, em Teófilo Otoni, de uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE), que isentará de impostos produtos vendidos para o exterior, deverá dar impulso à produção de granito, pedras ornamentais e à indústria da cachaça.
“O esgotamento das minas e as exigências ambientais estão alterando o curso da história nos vales do Jequitinhonha e Mucuri", diz Geraldo Durães Pereira, gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater). A importância do artesanato é tão grande na região que a Emater local é uma das poucas em Minas que coordena programas nessa área. Cada município elegeu uma matéria-prima com a qual trabalha. Em Diamantina e arredores, onde estão 70% das sempre-vivas existentes no mundo, a marca do artesanato local são as flores e as bonecas de palha de milho. Senador Modesto Gonçalves é a terra do artesanato feito com palha de bananeira. São 219 famílias de agricultores envolvidas no programa. Elas trabalham com 23 produtos diferentes em 25 comunidades rurais.
Aos poucos a profissionalização também alcança setores tradicionais, como a indústria artesanal do queijo Serro, que chegou à região pelas mãos dos portugueses três séculos atrás. A atividade envolve 1.000 produtores na fabricação desse queijo feito com leite cru. A produção de 3.500 toneladas movimenta uma economia de R$ 30 milhões ao ano e gera 2.650 empregos diretos em 11 municípios. O desafio é levar as empresas para a formalidade, já que apenas 10% das queijarias são certificadas e têm selo de qualidade do Instituto Mineiro de Agricultura (Ima).
VIAJANTES
O turismo é outro indutor do desenvolvimento na região de Diamantina. O primeiro impulso foi dado com a campanha para a eleição do município como Patrimônio Cultural da Humanidade. Depois, em 1997, foi criada a Vesperata, uma grande seresta ao ar livre em que o maestro rege, da rua, os músicos que tocam das sacadas dos casarões. Edson Soares de Oliveira, maestro da Banda Municipal, calcula que o faturamento da cidade com cada concerto é de R$ 500 mil. A programação oficial prevê 15 espetáculos ao ano. “Com a Vesperata, vieram novos hotéis e pousadas para a cidade, aumentaram as oportunidades de emprego e o artesanato se valorizou.”
Os produtos da agricultura familiar e do artesanato fazem o dinheiro circular dentro do próprio vale e uma expressão disso são feiras locais como a de Araçuaí, aos sábados. Ali se encontra de tudo um pouco: frutas, legumes, farinha, carne de sol, queijo, artesanato. “Nossa preocupação é compor a cadeia produtiva rural, oferecendo condições para a permanência no campo. A agricultura familiar é responsável pelo abastecimento de todo o vale”, diz Bruno Balarini, secretário de Indústria, Comércio e Turismo de Teófilo Otoni.
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