Texto: Claudio Versiani a partir de um depoimento de Luiz Ribeiro, publicado no Pictura Pixel
Luiz Ribeiro é mineiro de Diamantina. Como bom filho da terra ele resolveu descobrir o que existia para além das montanhas. Luiz saiu do Brasil em 1986 e veio fazer a América. O plano era trabalhar seis meses, juntar um dinheiro e voltar. Ele trabalhava na loja da finada Vasp em Belo Horizonte. Com uma passagem grátis e US$500 no bolso, o mineiro chegou aqui em 19 de abril, dia do índio, e se sentiu como um, conta ele. Afinal era a primeira vez que saía do Brasil. Luiz não falava uma palavra de inglês. No avião ele havia decidido que seria fotógrafo e que Nova York seria um bom lugar para tentar a sorte.
O primeiro trabalho de Luiz foi em uma fábrica de móveis. Ele lixava os produtos antes de serem pintados. Após seis meses, sua mãos estavam em carne viva, ralação de verdade. Ele não aguentou e pediu demissão. Por indicação de um amigo brasileiro, Luiz foi trabalhar com um argentino chamado Julio, que tinha uma loja de pedras semi-preciosas do Brasil. Ribeiro era responsável pelo recebimento das encomendas e também pela limpeza da loja.
Ele já estava aqui há 8 meses. O sonho de virar fotógrafo ainda estava longe de acontecer. Luiz pediu para sua mãe mandar as fotos que ele gostava de fazer durante suas férias no Brasil e começou a mostrá-las para todo mundo.”Um belo dia, uma senhora da loja me indicou para uma amiga dela, que trabalhava num laboratório”, recorda Luiz Ribeiro. Era um estúdio especializado em fazer álbuns de fotografia de final de ano para escolas. Como diz o próprio: “era uma fábrica de fotografias”. O inglês ainda era sofrível, mas melhorava a cada dia graças `a leitura do NY Times. Ele lia, não entendia, anotava as palavras e depois buscava o significado no dicionário.
No estúdio Ribeiro começou arquivando as fotografias, mas com uma semana conseguiu ser deslocado para o laboratório. Depois de algum tempo já sabia revelar, imprimir e corrigir as cores. Novamente pediu demissão e mesmo sendo ilegal conseguiu emprego em um laboratório fotográfico. Ele começou tudo de novo, teve de limpar o laboratório durante seis meses. Antes que pudesse desempenhar uma outra função, Luiz foi demitido. Conseguiu trabalho em mais um laboratório e mais uma vez, na limpeza.
Luiz Ribeiro permaneceu nesse emprego de 1987 até 1995. Paralelamente fotografava por conta própria. Ele foi promovido a chefe geral da empresa, um negócio com orçamento anual de US$ 5 milhões. Ainda não era o sonho.
Em 1989, durante as eleições presidenciais, Luiz Ribeiro agarrou a sua primeira chance real. Ele fotografou brasileiros votando aqui em NY e vendeu para a Agência AP, foram 3 fotos. A US$75 cada uma, um bom dinheiro para a época. O editor da AP gostou do material e passou a lhe oferecer alguns trabalhos. A rotina do laboratório seguia igual, das 7h da manhã até `as 3h da tarde. A partir das 3h, frilas para a AP. A vida estava melhorando e o sonho quase se concretizando.
Em 1992, Luiz recebeu um convite de Seth Jones, editor de fotografia do NY Post, um jornal pequeno que havia acabado de ser comprado por Rupert Murdoch. Após uma semana de testes, Luiz Ribeiro passou a fazer parte do quadro de fotógrafos do NY Post. O sonho se realizou depois de 6 anos.
Em 2000, Luiz conheceu Kevin Mazur, fotógrafo especializado em música e celebridades. Ribeiro organizou o arquivo pessoal do fotógrafo e passou a acompanhá-lo na cobertura de eventos como Oscars, Grammys, Golden Globes, concertos de música na Jamaica, Rock in Rio. O sonho estava melhor.
Em 2001, Kevin fundou a agência Wireimage, aliado com alguns fotógrafos de Los Angeles. Luiz Ribeiro ajudou a montar o sistema de internet, arquivos, distribuição de fotos, etc. Em menos de 2 anos, a Wireimage se tornou uma das maiores agências de celebridades do mundo. Recentemente a Getty Images comprou a Wireimage por US$400 milhões. Em 2004, Luiz recebeu um convite da mesma Getty para ser editor/consultor da agência. Ele permaneceu na agência até 2006.
Ribeiro está no NY Post há 15 anos. Todas as vezes em que recebeu uma proposta de emprego, o Post cobriu a oferta. No jornal, Luiz começou trabalhando de 4h da tarde até meia-noite. O chefe da fotografia ia embora `as 10h da noite e pedia para que ele, Luiz, cuidasse do Photodesk até o fechamento do jornal. Foi assim que comecei a me transformar em editor, relembra Ribeiro.
O NY Post trabalha com 60 fotógrafos, 40 deles em NY. Das milhares de fotografias produzidas no dia a dia, 400 vão para o banco de dados do jornal. Outras 9600 imagens vêm das agências nacionais e internacionais. O banco de imagens online do Post possui cerca de 3 milhões de fotos. O tablóide de Mr. Murdoch tem uma tiragem média de 800 mil exemplares diários. Pelas páginas do jornal na rede, passam 3 milhões de leitores todos os dias. O Post é um dos 10 jornais americanos mais lidos na internet e o quinto em tiragem no país.
Luiz Ribeiro é o responsável pela edição fotográfica do NY Post que chega `as bancas na segunda-feira. No dia a dia, ele é o editor de fotografia do nypost.com, o website do Post. Nada mal para quem um dia resolveu sair de Diamantina e descobrir o que havia por detrás das montanhas de Minas.
O site pessoal de Luiz Ribeiro está aqui.
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