Fonte: Jornal Nacional 19/09/2011
Não chove há mais de três meses em vários municípios do Vale do Jequitinhonha. Os pequenos criadores tentam salvar o gado enfraquecido.
Não chove há mais de três meses em vários municípios do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. A população está disputando água com os animais.
Com oito meses de estiagem só sobrou lama na maioria dos açudes da região. Muitos bichos não resistiram. Os pequenos criadores tentam salvar o gado enfraquecido, mas a natureza não ajuda.
“Tem um pastinho sequinho, graveto assim nos matos, aqueles capinzinhos muito secos mesmo. Quando acabar isso, agora só Deus que sabe o que vai fazer”, conta o lavrador João Mendes dos Santos.
Em uma comunidade rural, os moradores dividem com os animais a água suja do único açude que não secou. “Só tem essa”, afirma um rapaz que dividia a água com um cachorro.
“Nós estamos pegando água grossa para cozinhar e para beber”, diz uma dona de casa.
A chegada do carro-pipa ameniza o sofrimento. “Essa água que caiu do caminhão-pipa hoje, a gente faz economia dela e dá para esperar a outra. É um alívio que Deus mandou”, conta, emocionada, uma senhora.
“Aqui tem 94 famílias e todas precisam ser atendidas com caminhão. O número de caminhões é pouco, não é suficiente”, explica Cleiton Souza, secretário de Agricultura de Araçuaí.
O suprimento de água chegou a um nível tão crítico que o medo agora é que comece a faltar, também, comida no campo. Lavouras de subsistência só voltarão a ser irrigadas quando começar a chover.
A pequena plantação da lavradora Arlete Dias está se perdendo dia a dia debaixo do sol forte, mas é a única saída para a família não ficar sem o que beber: “Meu sustentinho é nessa horta. Eu sou devota de Nossa Senhora. Peço a ela para não deixar morrer de fome, nem de sede”, conta.
Em outra propriedade, vaqueiros tentam abrir um poço no terreno que é pura pedra. Mas, para todo canto que se olha, a paisagem está triste. E ver os rios que secaram só aumenta a angústia desse povo: “Isso aqui era tomado d’água, aqui nós pescávamos. Cada ano que passa lá vai sendo pior. Eu fico sentido, tem hora que eu olho aqui, eu lembro como tinha bastante água aqui, eu fico pesaroso, fico muito pesaroso”, diz o lavrador Fidelsino de Jesus.
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